Pastagens de Inverno: Recomendações, Sistemas, Semeadura, Espécies e Variedades.

Pastagens de Inverno: Recomendações, Sistemas, Semeadura, Espécies e Variedades.

 

     As pastagens cultivadas de inverno, se constituem, na ferramenta mais econômica e rentável que o produtor rural pode utilizar para evitar os prejuízos gerados pelo rigoroso inverno da Região Sul do Brasil. Como exemplo na Região da Campanha Meridional, um dos berços da pecuária de corte de qualidade, são comuns no período invernal, a ocorrência de temperaturas abaixo de Zero graus, a incidência de mais de 50 geadas e o excesso de umidade gerado pela média invernal de 460 mm de chuva, fatores climáticos estes, que geram um déficit alimentar na atividade pecuária. A paralização do crescimento e a queima pela geada dos campos naturais, acarretam um desbalanço entre as necessidades energéticas, proteícas, metabólicas e de manutenção nos animais, ocasionando acentuada perda de peso, diminuição da idade de abate, baixos índices reprodutivos, abortos, mortalidade, entre outros pontos negativos. Todas estas constatações levam a uma ineficiência na atividade pecuária e consequentemente baixa rentabilidade neste setor.

    O "Planejamento Forrageiro" é a técnica que evita as perdas invernais, incrementa a produtividade e alavanca a rentabilidade pecuária. Várias são as tecnologias utilizadas para a implantação das pastagens cultivadas de inverno, bem como diversas são as espécies e variedades disponíveis para a produção forrageira. A escolha das várias opções dependerá da região, solo, clima, vegetação natural, topografia, relevo e fundamentalmente do sistema de produção utilizado. A seguir citamos algumas técnicas para a introdução de pastagens de inverno, sempre baseadas na produção "SEGURA E SUSTENTÁVEL DO SISTEMA" .

 

"DE NADA ADIANTA, BOAS SEMENTES, CORRETAS VARIEDADES E FERTILIZAÇÕES, SE O PLANEJAMENTO E FUNDAMENTALMENTE O MANEJO FOREM EQUIVOCADOS"

 

SISTEMAS DE IMPLANTAÇÃO 

  • Em cobertura, via Integração  Soja ou Arroz - Pastagens
  • Semeadura direta sobre campo natural com uso de dessecantes
  • Semeadura em cobertura ou de forma direta sobre campo nativo
  • Implantação de Leguminosas em cobertura, por meio de Cultivos Protetores de Inverno (Aveia branca, Trigo e Cevada) 
  • Semeadura de Pastagens de Inverno, em cobertura, sobre Cultivos Protetores de Verão (Sorgo Forrageiro e Milheto)
  • Plantio Direto de Pastagens de Inverno sobre resteva de Milho ou Sorgo
  • Introdução de Pastagens através do Cultivo Mínimo
  • Semeadura Convencional: Este Sistema recomendamos em casos especiais, por exemplo: As áreas de várzeas, dentro de um Sistema Integrado, Arroz - Pecuária. Neste caso ocorre o preparo, nivelamento e drenagem do solo no verão, com posterior semeadura em cobertura de azevém, que será pastoreado por terneiros até a primavera, época esta em que ocorrerá o plantio do arroz.

 

 ESPÉCIES E VARIEDADES:

 

Na região Sul do Brasil, Uruguai e Argentina, diversas são as espécies e variedades, que podem integrar um Planejamento Forrageiro , sendo que a escolha das mesmas, sistemas de semeadura, densidades, fertilizações e manejo, estão intimamente ligadas ao clima,solo, relevo, topografia, vegetação natural, cultivos antecessores e em sucessão e principalmente ao Sistema a ser adotado. Citamos abaixo algumas espécies e variedades, comprovadamente eficientes, e suas aptidões:

 

A escolha da pastagem cultivada de inverno, deve priorizar, o uso das consorciações entre Gramíneas e Leguminosas, pois desta forma, ocorre uma maior produção das mesmas, com a forragem bem distribuida ao longo das estações climáticas, incremento da fertilidade do solo e  boa produtividade por vários anos. O uso de gramíneas anuais de forma isolada, com o Azevém e a Aveia, é indicado para o sistema de rotação curta, onde ocorrerá a semeadura de culturas agrícolas na primavera, desta forma, o solo fica coberto, integra-se a pecuária e obtem-se palhada para o plantio direto. 

 

Recomendações de Espécies e Variedades de Gramíneas e Leguminosas

de Inverno, as mesmas podem ser encontradas no RS, Uruguai ou Argentina.

Gramíneas Ciclo Solos Características Variedades

Aveia Preta

(Avena strigosa)

Anual Bem drenados e corrigidos. Rápido crescimento, indicada para pastoreio.

- UPFA-21.

-Preta Comum.

-Iapar 61.

-Embrapa 29(Garoa).

 

 Aveia branca (Avena sativa)  Anual  Bem drenados e corrigidos.  Grande produção de massa. Indicada para grãos, silagem e feno.

- UPFA 20,21 e 22.

-UPF 18.

-URS Guapa e 22.

Entre outras.

 

 

Azevém anual

(Lolium multiflorum)

Anual.

Permanece

produtivo por vários anos, em função de sua excelente ressemeadura natural.

 

Adaptado a diferentes tipos de solo.

Boa produção de forragem, bom rebrote, resistente ao pastejo e ao excesso de umidade,

suporta altas lotações, apresenta alta qualidade nutritiva e boa palatabilidade.

-BRS Ponteio.

-LE 284.

-*INIA TITAN(4N).

 

Capim Lanudo (Holcus lanatus)  Sob correta condição de manejo, a cultivar indicada, comporta-se como bianual ou perene, com excelente presença de plantas por ressemeadura natural.  Adapta-se a solos arenosos e de baixa fertilidade, ao basalto e também  a áreas baixas com maior teor de umidade.  Bom crescimento inicial. Alto potencial de produção de forragem no período crítico outono-invernal. Boa digestibilidade e aceitação em pastoreio. Boa ressemeadura natural. - La Magnolia.
Festuca (Festuca arundinacea) Perene  Boa adaptação a solos desde úmidos a bem drenados com boa fertilidade ou corrigidos. Para o basalto  somente recomenda-se seu uso em consorciação com Trevo branco e Cornichão.

Espécie rústica, de crescimento inicial muito lento, não tolerando competições, 

razão pela qual não deve ser semeada em solos com presença de azevém. Em consorciações com leguminosas, é uma excelente opção para pastejos outonais a partir do 2º ano.

- INIA Tacuabé.

-El Palenque Plus INTA.

-Brava INTA.

 *  Cultivar Tetraplóide, cujas características são a rápida produção inicial e alta produção

total de massa de forragem, além de apresentarem um ciclo vegetativo mais longo em comparação as

cultivares diplóides, podendo serem semeadas no término das culturas de verão.

 

 

Leguminosas Ciclo Solos Características Variedades
 Trevo branco(Trifolium repens)  Perene Exigente em fertilidade, adapta-se aos solos baixos úmidos com deficiência de drenagem até aos de coxilhas  férteis.  É uma das principais leguminosas de clima temperado, possui alto valor nutricional e por seu hábito de crescimento prostrado e estolonífero, adapta-se ao pastoreio e resiste ao pisoteio.

 - Zapican

 - Haifa

- El Lucero

- Trevos Ladinos        

 Cornichão (Lotus corniculatus) Perene   Adapta-se a vários tipos de solos, desde os úmidos e pesados em sucessão ao arroz, como os de textura leve e coxilhas bem drenadas. É menos exigente em fertilidade do que os trevos branco e vermelho.  É uma espécie rústica com relação a solos e resistência a seca. Possui bom valor nutritivo. Sua produção de forragem concentra-se nos meses de Outono, Primavera e Verão. Para o Inverno recomenda-se diferir forragem outonal. Se adapta a consorciação com Azevém e Trevos, e seu pastoreio deve ser preferencialmente controlado e rotativo.

 - São Gabriel

- INIA Draco

"Cornichão anual"

(Lotus subbiflorus)

Anual Adaptado aos solos superficiais e / ou de baixa fertilidade, bem como, aos ácidos. Apresenta vantagens quanto mais raso ou úmido for o solo. Implanta-se com facilidade com baixos níveis de fertilização fosfatada, mas nos solos corrigidos, seu potencial é fortemente incrementado. Recomenda-se aos  solos em que os campos naturais possuem baixa produtividade. Possui excelente implantação em semeadura  em cobertura sobre campo natural. Seu crescimento inicial é lento e a sua produção concentra-se entre os meses de agosto a dezembro, embora sua qualidade no inverno seja importante. Permanece produtivo por vários anos, em função de sua excelente ressemeadura natural. Possui a característica de melhorar de forma expressiva a produção dos campos naturais quando semeado em cobertura. - El Rincón
Lotus Maku (Lotus pedunculatus) Perene Adaptado a solos ácidos e de baixa fertilidade, apesar de apresentar excelente resposta a fertilização fosfatada. Apresenta boas produções desde os solos rasos e superficiais até os com excesso de umidade.

É um cultivar tetraplóide, originário da Nova Zelândia, extremamente adaptado para a semeadura em cobertura sobre campo nativo. Sua propagação após a implantação se dá principalmente por rizomas, razão pela qual é resistente ao pastoreio intenso, preferencialmente de forma rotativa. É o "Lotus" perene de maior produção no Inverno. Sua qualidade é similar a de outras leguminosas. Consorcia bem  nos solos de baixa fertilidade com o Capim Lanudo e nos de melhor fertilidade com o Azevém anual e a Festuca. Como o Cornichão, possui tanino, não apresentando timpanismo aos animais. Cuidados especiais devem ser levados em consideração:

- Na semeadura, não enterrar as sementes, pois abaixo de 1 cm de profundidade as plântulas não emergem,

- No Verão, por não ser muito resistente a seca, manejos adequados de pastoreio e preservação dos rizomas devem ser considerados,

- Como produz pouca semente, sua ressemeadura natural, deve ser favorecida. 

- Grasslands Maku

 

Lotus tenuis

(Lotus tenuis)

Perene Recomendado para solos em áreas baixas e várzeas. É a espécie de Lotus que melhor se adapta aos solos de baixa drenagem e alagamento, bem como, aos salinos e alcalinos, com pH até 10. Lotus tenuis, possui a capacidade de produzir em solos com baixa concentração de fósforo (P) assimilável, onde outras leguminosas não prosperam. Como a maioria dos Lotus, sua exigência em fertilidade é baixa, embora responda ao agregado de fósforo.

Leguminosa extremamente adaptada a solos alagáveis, de excelente digestibilidade e valor nutricional, gerando ótimos ganhos de peso em condições de pastoreio. Seu ciclo é típico primavera-estivo-outonal. Apresenta boas produções de matéria seca / hectare e resistência a seca. Sua inoculação se dá com o mesmo Rhizobium, do Lotus corniculatus. Recomenda-se sua semeadura em cobertura, de forma direta, eliminando-se ao máximo a competição, inclusive com o uso de dessecantes, pois sua implantação é lenta. O manejo do pastoreio deve seguir orientação técnica, pois do mesmo depende a futura produção primavera - estival.

 Apresenta excelente ressemeadura natural o que sempre deve ser estimulado para a formação do banco de sementes.

- Chajá.

- Larrañaga.

- La Esmeralda.

- Pampa INTA.

Trevo vermelho (Trifolium pratense) Botanicamente é considerada uma espécie perene, mas seu comportamento tem sido BIANUAL,em função de condições de solo, clima, manejo, pragas e principalmente enfermidades. Adapta-se a vários tipos de solos. Em função de sua alta produtividade necessita que os mesmos   possuam boa fertilidade natural, ou que recebam a devida correção. Pode ser utilizado em áreas baixas, coxilhas  e até em solos de basalto, embora produza mais nas áreas bem drenadas e férteis. É menos exigente que o Trevo branco com relação aos níveis mínimos de fertilidade. É uma leguminosa de alta produtividade, chegando sem dificuldades a produções de 17.000 kg de MS / hectare somados os 02 (dois) anos de produção. Possui um estabelecimento mais rápido que o Trevo branco, bem como, importantes aportes de forragem no 2º ano de sua implantação, principalmente no Outono e Primavera. Sua utilização melhora o balanço de Nitrogênio, incrementando a produção dos cultivos agrícolas ou das gramíneas em um sistema pecuário. Adapta-se a melhoramentos de campos naturais com semeadura em cobertura, desde que seja manejada a competição de outras plantas em sua implantação, possui boa ressemeadura natural e recomenda-se sua consorciação com gramíneas e cornichão, evitando-se o Trevo branco, pois estas duas espécies juntas, aumentam o risco de "Timpanismo".

 Os cultivares, com latência invernal, possuem implantação mais lenta, menor produção no inverno e um ciclo maior de produção entre a Primavera e Verão. Já os cultivares sem latência invernal, produzem de forma mais rápida no final da estação fria, mas tendem a florescer de forma mais precoce. Além destes existem cultivares intermediários.

Recomendações:

- Estanzuela 116

- Quiñequeli

Trevo vesiculoso (Trifolium vesiculosum) Anual Esta espécie não é indicada para os solos com excesso de umidade. Apresenta boas produções, mesmo em áreas de baixa fertilidade natural, desde que corrigidas com fertilizações. Seu crescimento inicial é lento, mas seu ciclo é longo. Seu florescimento ocorre no final da primavera e início do verão. Apresenta boa produção de forragem de qualidade. Ensaios no INIA (Uruguai), apontam produções anuais médias entre 4 e 5  toneladas de MS/hectare. Apresenta boa ressemeadura natural, formando um banco de sementes para os anos posteriores, ou seja, produz por vários anos. Apresenta o incoveniente na semeadura, de alta percentagem de sementes duras, que necessitam "escarificação" para quebra de dormência.  Como outras leguminosas, necessita inoculante específico e semeaduras superficiais ou em cobertura. Como um Trifolium, pode provocar Timpanismo.  "Consulte um técnico"
Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum subespecie subterraneum) Anual Seu uso é recomendado em solos de textura leve ou franca arenosa e fertéis, fundamentalmente, nos elementos, Fósforo, Potássio e Nitrogênio. Tolera solos ligeiramente ácidos, sendo a faixa de pH ideal entre 5,0 e 7,0. É uma leguminosa anual de produção invernal. Apresenta a característica de no final de seu ciclo reprodutivo, no término da primavera,  de enterrar superficialmente suas sementes, razão pela qual o solo em que se desenvolve deve ter textura leve. Após esta etapa a planta morre. Esta característica, possibilita com as primeiras chuvas de outono, uma boa germinação, tornando esta espécie produtiva por vários anos. É adaptada a invernos fríos e úmidos, com rápido crescimento inicial. Apresenta  hábito de crescimento prostrado, com talos fortes, boa produção e persistência em pastoreios. O sucesso de sua  produtividade e persistência, está diretamente ligada a correta escolha das cultivares indicadas para a região geográfica de sua implantação, pois  com relação a floração, existem genótipos precoces, intermediários e tardios, bem como, com diferentes exigências no índice de chuvas. Esta diferença entre cultivares, resulta no sucesso ou fracasso da utilização do Trevo subterrâneo. "Consulte um técnico"